BC sinaliza cautela nas próximas decisões sobre a taxa de juros

Na última reunião de 2019, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduziu a taxa básica de juros pela quarta vez no ano, em decisão unânime. Com isso, a Selic renovou o piso histórico, passando de 5% para 4,5% anuais a partir desta quinta-feira (12/12). O corte era esperado pelo mercado, contudo, não há uma certeza de que o ciclo atual de baixa foi interrompido. No comunicado divulgado após o encontro, os diretores do BC sinalizaram a necessidade de “cautela” daqui por diante e que tudo dependerá de uma retomada mais robusta da economia. “O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, destacou o colegiado. A próxima reunião do Copom ocorrerá no início de fevereiro do ano que vem.

“O Banco Central foi prudente e deixou a janela aberta, tanto para um novo corte na Selic quanto para a manutenção. Isso é muito bom, porque a inflação está subindo e pode haver risco se ela ficar muito próxima da meta no ano que vem (de 4%). Além disso, ainda estamos vivendo uma fase muito incerta, principalmente, no cenário externo e com o dólar em um novo patamar, acima de R$ 4, que deverá ser mantido no ano que vem”, avaliou Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC e chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, apesar de o comunicado ter sido menos enfático sobre os rumos que pretende tomar, disse que “continua esperando um corte de 0,25 ponto percentual na reunião de fevereiro”, porém, atenta à evolução dos dados, como o BC.

O ciclo de corte da Selic começou em julho e, na avaliação da economista Juliana Inhasz, professora do Insper, o novo patamar dos juros básicos do Brasil provocou mudanças no comportamento dos investidores. “O investidor nacional percebeu que a época das vacas gordas da renda fixa acabou e, agora, precisa investir em renda variável para ter um pouco mais de rendimento ou até mesmo empreender, mais para frente, quando a economia der sinais mais claros de retomada”, destacou Juliana. Ela lembrou que os efeitos dos juros baixos na economia real são graduais e ainda devem demorar, porque “o cenário macroeconômico estava muito deteriorado”.

A professora ressaltou que, embora esteja em queda, o risco país, medido pelos CDS (Credit Default Swaps) é de 113,9 pontos, ainda elevado se comparado ao de outras economias emergentes. Não à toa, os investidores estrangeiros ainda não estão tão otimistas como os brasileiros em relação ao país, que não tem mais selo de bom pagador. O fluxo de saída de dólares neste ano somou US$ 30 bilhões no acumulado até 6 de dezembro, conforme os dados do BC, enquanto os juros reais passam para 1,23% ao ano, considerando o IPCA acumulado em 12 meses até novembro. Esse patamar de juros é parecido com o de países desenvolvidos, que têm riscos bem menores.
Ataque ao spread
Entidades patronais como Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) consideraram a decisão do Copom “positiva e acertada”. E defenderam em coro a necessidade de o setor financeiro reduzir os juros para os tomares de crédito, e de novas medidas do BC para estimular a concorrência.

Logo após o anúncio do novo corte na Selic, o Itaú Unibanco anunciou redução de 0,5 ponto percentual nos juros de crédito para pessoas físicas e jurídicas, a partir do próximo dia 17. Pouco depois, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, informou que vai anunciar nesta quinta-feira (12/12) novas taxas de juros da instituição. Já o presidente Jair Bolsonaro comemorou o novo piso histórico da Selic de 4,5% ao ano, “suficientemente baixa para continuar impulsionando o crescimento do Brasil”. “Com esses percentuais economizaremos, a título de juros, aproximadamente R$ 110 bilhões em 2020”, escreveu ele nas redes sociais.

Fonte: Correio Braziliense/Classe Contábil

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